quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

julgue

Eu vejo os garotos nas ruas e vejo a discriminação nos olhos de cada cidadão de bem, os pais de família moralistas que procuram as prostitutas mais baratas, antes de retornar ao lar e abraçar seus filhos sadios e sua mulher prestativa. Eu vejo o julgamento humano, o julgamento animal e a fuga em cada pedra de crak, eu vejo ele cada vez mais distante daquela realidade cruel corrupta, esquizofrênica, eu vejo ele se vendo alguém, talvez vendo a luz, vendo o seu Deus, eu vejo o bode chegando, e vejo a janela do carro se quebrar a procura de uma bolsa que depois de minutos vira fumaça.
Eu vejo ele admirando o oitão na calça, a vagabunda que está ao lado a Brahma no balcão e o golf com o porta malas aberto tocando os hinos do CV a toda altura. Eu vejo ele ganhando todo o movimento e só observando o primeiro malote e os primeiros dez reais no bolso do “cara”.
Ele vive em outra realidade, já viveu muito nesses dose anos, já viu muito, já viveu o inferno, mesmo quando estava a procura do céu.
Eu vejo ele não conhecendo a Xuxa, nem o pequeno urso, eu vejo ele sem conhecer o ABCDário, sem conhecer o nazismo, o socialismo, o escravismo, o integralismo, sem conhecer o Albert King, o Adouls Huxley, sem conhecer o Malcon X, o Gandhi, ou o Mandela.
Eu vejo ele sem esperança, sem distinguir o certo do errado, o bom do mau, o bem do mal. Ele quer ter dinheiro, droga e não ter polícia? Ou será que ele quer uma casa, batata frita com bife e nescal com leite? Ele não sabe, ele não teve exemplos não teve orientação, ele segue as ruas, pois ele conhece as ruas, a maldade das esquinas e dos corações.
Você não liga pra história dele, você não liga para o que ele passa, você só liga para a sua carteira, para as suas sacolas, mas você não está errado, que se foda não né?
O caminho certo para o homem é o caminho que lhe pode dar algum retorno, tipo um gato que se apega aos pedaços de carne que você dá a ele e não a você, o homem se apega a esperança de conseguir algo, independentemente do caminho a seguir. O garoto se espelha em quem está mais perto.

Esse mundo talvez não tenha correção, o sistema já está formado, e o que resta são alguns efeitos colaterais fabricado por ele, tipo eu.


Henrique Almeida

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vá.

_ Vá, mas leve com você todas as fotos e todos os fatos que nos fizeram ser o que somos hoje.
Leve com com você também os discos do Nat King Cole, e as marcas de unha que moram em minhas costas.
Leve com você o que eu costumava ser á 6 anos atras, e todos os maços de cigarro que me fez fumar após longas noite de amor, ou seria sexo, ou seria... sei lá.
Leve com você parte das festas, das tristezas, das mentiras, das verdades, das burrices e dos devaneios. Leve as cartas de amor, leve a escada, o chão da cozinha, o sofá, a mesa, a pia, o boxe, a cama e todos os outros lugares onde meu corpo foi seu sem que o seu corpo fosse meu.
Leve o desprezo que sinto por você agora e todas as feridas em carne viva que se espalham em meu corpo, leve a garrafa de velho barreiro em cima da bancada, e os batões vermelhos dentro do guarda roupa,

Mas antes de tudo isso vem aqui pra cama e leve dentro de você o pouco de mim que ainda lhe interessa.

Henrique Almeida